sábado, 16 de maio de 2009

a imigração japonesa

Apesar de termos notícias de japoneses habitando o Brasil antes de 1908, foi a chegada do navio japonês Kasato Maru ao porto de Santos que marcou o início da imigração japonesa ao Brasil. A abolição da escravatura, levou a um período de necessidade de mão-de-obra barata nas lavouras brasileiras. Já o Japão passava por uma intensa crise econômica causada pelo alto investimento militar para garantir as mudanças impostas pelo imperador Meiji. Era, portanto, um país com abundância de trabalho e escassez de mão-de-obra e outro à beira do colapso e com excedente populacional.

Sendo assim, os acordos entre os dois países começaram a ser discutidos ainda no final do século XIX e em 1892 já era permitida a entrada de japoneses no país. Porém, foram mais de 15 anos para que a primeira leva chegasse trazendo lavradores das regiões mais empobrecidas do Japão que vinham em busca de trabalho temporário com o qual pudessem juntar algum dinheiro e retornar para os seus lares.

Historiadores costumam dividir a imigração japonesa para o Brasil em quatro grandes períodos: 1908 - 1923, quando a grande massa de trabalhadores foi suprir de mão-de-obra as grandes lavouras cafeeiras, principalmente de São Paulo; 1924 - 1941, período no qual os trabalhadores começaram a fazer parte de projetos de colonização, em especial do noroeste do estado de São Paulo e do norte do Paraná; 1941 - 1950, época em que os japoneses já eram numerosos, inclusive em áreas urbanas, e sofreram as consequências da participação do Japão na Segunda Guerra Mundial; e, finalmente, o período de 1951 até os dias atuais, que se caracteriza pela assimilação dos imigrantes na sociedade brasileira e pela formação de colônias em áreas de fronteira agrícola como a Amazônia. Alguns estudiosos ainda destacam como um período independente o chamado movimento dekassegui, que teve seu início no limiar dos anos 90, quando os primeiros brasileiros naturalizados (issei) e descendentes de primeira geração (nissei) partiram para o Japão em busca de trabalho nas indústrias e fugindo da crise econômica brasileira.

No primeiro período, os grupos vinham do Japão pelo porto de Kobe e desembarcavam em Santos. Em ambas as cidades, haviam centros de triagem de migrantes. Em Kobe, era o Kobe Ijuu Center (Centro de Imigração de Kobe) e em Santos, a Hospedaria dos Imigrantes. Ambos os prédios são considerados atualmente de alto valor histórico. Candidatos vinham de várias áreas do Japão, em especial de províncias menos desenvolvidas. Chegando no Kobe Ijuu Center, eles eram examinados e aqueles considerados aptos recebiam instruções básicas e autorização para a viagem. Já no Brasil, após a triagem na Hospedaria dos Imigrantes, os grupos eram enviados para as fazendas de café.

Quanto à viagem, o governo do Estado de São Paulo arcava com 50% das despesas. A parte restante era financiada pelos proprietários de terra que deduziam o valor do salário dos trabalhadores. De acordo com os relatos, a grande maioria dos imigrantes sofriam escravidão por dívida, ou seja, o valor da passagem e de outras despesas era superfaturado de modo que era quase impossível de ser pago. Como faziam os escravos, muitos decidiam fugir das fazendas. A situação se tornou desconfortável ao ponto do governo japonês apelar junto ao brasileiro por condições mais humanas de trabalho. Os registros apontam que 32.266 japoneses chegaram no Brasil até 1923.

No segundo período, com o suporte do governo federal e de alguns governos provinciais do Japão, foram montadas companhias colonizadoras que compravam terras e as revendiam para os imigrantes japoneses. Foi o início da pequena produção familiar que levou os japoneses e seus descendentes ao posto de responsáveis pela produção de alimentos no Brasil. Em 1935, o governo brasileiro declarou que os japoneses eram responsáveis por 70% da produção agrícola do país. Nessa época, também, ganharam impulso os movimentos anti-nipônicos no país.

A Constituição de 1934 já apontava para o estabelecimento de cotas limitando a entrada de asiáticos no Brasil. O debate sobre o tema foi acirrado. Os contrários à presença de japoneses no país, usavam como argumentos o imperialismo do Japão (que em 1931, invadira a Manchúria e dava início a uma série de atitudes belicistas) e a “não-assimilação” de seus nacionais pela sociedade brasileira. Havia, ainda, grupos que diziam que os japoneses roubavam o trabalho dos brasileiros, devido à sua imensa capacidade de trabalhar. Aqueles que eram a favor argumentavam que a agricultura brasileira era, naquele momento, totalmente dependente do trabalho destes imigrantes e, portanto, bani-los seria, também, por fim à produção de alimentos para o mercado interno.

Lealdade ao imperador ou morte
Em 1938, o governo Vargas iniciou uma série de políticas que atingiram em cheio os imigrantes, em especial, os oriundos do Japão e da Alemanha, países tornados inimigos quando o Brasil pendeu para o lado dos Estados Unidos na guerra. Escolas japonesas foram fechadas, jornais e livros japoneses deixaram de circular. Por razões óbvias, cidadãos dos dois países foram proibidos de entrar no Brasil. A reação também não tardou. Uma das mais fortes veio da organização Shindo Renmei, que declarava lealdade ao imperador japonês. Formado em 1944, o grupo acreditava que as notícias que levavam a crer que o Japão seria derrotado não passavam de propaganda. Ao final da guerra, a comunidade nipônica no Brasil estava dividida em dois grupos: o makegumi ou derrotistas e o kachigumi ou vitoristas. A Shindo Renmei organizou vários atentados contra o grupo rival e, no período entre fevereiro de 1946 e janeiro de 1947, 23 pessoas foram mortas e 126 feridas por acreditarem no fim da guerra e na rendição do Japão.

A partir do ano de 1950, a imigração de japoneses ao Brasil foi retomada. Novas áreas começaram a receber japoneses, entre elas a Amazônia. Foi, também, a partir deste período, que os descendentes começaram a ser assimilados na sociedade brasileira. Até então, a resistência vinha de ambos lados. Os considerados “típicos” brasileiros não reconheciam os descendentes nipônicos no mito das três raças fundadoras do país. Os japoneses, por sua vez, ainda cultivavam o sonho de retorno e procuravam manter seu próprio mito de identidade monoética.

Porém, com o fim da segregação provocada pela guerra, a prosperidade atingida não somente na lavoura, mas em negócios étnicos e o sucesso acadêmico de seus descendentes, os japoneses passaram a ser vistos como uma minoria positiva. O número de casamentos interétnicos também cresceu, a despeito dos que ainda consideravam a necessidade da manutenção da unidade racial da colônia. O preconceito contra os ainoko (“filhos do amor” ou, em bom português, “filhos da carne”, nome que era dado aos mestiços) de algum modo perdurava, mas foi lentamente diminuindo com as gerações.

Segundo o consulado japonês no Rio de Janeiro, cerca de 200 mil japoneses aportaram em terras brasileiras.Eles e seus descendentes somam, atualmente, mais de 1.500.000 brasileiros que vivem em várias regiões do país e constituem a maior comunidade nipônica fora do Japão. Estima-se que, deste grupo, cerca de 300 mil vivam atualmente na terra de seus antepassados ou em movimentos pendulares entre os dois países. É o chamado “movimento dekassegui”, fruto da crise econômica e social brasileira e da falta de mão-de-obra que afeta o Japão. Hoje, os nikkei (descendentes de japoneses) sofrem no país de seus ancestrais o mesmo que estes viveram quando chegaram ao Brasil.

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