domingo, 3 de maio de 2009

“Dissipação Visual” na década de 90

A cidade de Miracatu teve o privilégio de ser o foco irradiador e experimentar um grande movimento artístico intitulado “Dissipação Visual” que modificou a vida de jovens, artistas e simpatizantes sendo importante por lançar diversos artistas locais que militavam timidamente nas artes.

Tudo começou nas artes plásticas com o artista Osvaldo Matsuda, trazendo em sua bagagem intelectual um misto de conhecimentos que se fundiria posteriormente com várias histórias que proporcionou ao movimento uma linguagem única e até então nunca experimentada.

Nascido em Miracatu, Osvaldo Matsuda morou em São Paulo e estudou artes plásticas e na capital paulista já desenvolvia seus trabalhos que pendiam para a abstração dos elementos visuais.
Foi em seu retorno para Miracatu que conheceu muitas pessoas que se tornaram grandes amigos e lá delineou sua temática artística. Atuou no ensino de Educação Artística em Miracatu na E.E. “Profº Armando Gonçalves” desenvolvendo projetos que sempre atraíram grande número de público. Ministrou aulas de desenho e pintura e foi o articulador da Exposição “Novos Talentos” no antigo Salão Paroquial, atrás da Igreja Matriz.

Vários amigos foram somando forças por conta de seu talento e irreverência intelectualizada. Assim eu (Jehoval Junior), Julio Cesar Costa, Genésio Martins de Castro Júnior, Alex Magalhães, Nestor Rocha, Deco, Renato Cavalheiro, Shirley, Allan Müller, Jehovani Du Valle dentre muitos outros formaram o movimento que culminou com a “Dissipação Visual” que se utilizava do micro-cosmo, micro-universo para irradiar ao macro-universo a ecologia que deve ser preservada, os potenciais artísticos, a cultura de raiz e o centro desse equilíbrio: o Homem, habitante do Vale do Ribeira.

Não poderia ficar de fora é claro, a natureza em degradação e as potencialidades sólidas para a reversão do quadro de abandono e o isolamento que corrói e mata as perspectivas. Tudo vira arte para o artista Matsuda e a partir disso, obras, instalações e amizades foram sendo criadas alterando inúmeras vezes as expressões do artista sem perder em o seu foco. Assim, foi-se desenhando um multi-artista que passeou pela literatura, música (composição), declamação, artes plásticas, poesia, escultura.

Em grupo, a cidade de Miracatu pôde experimentar diversas exposições, apresentações musicais e teatrais, recitais e cafezinhos poéticos partindo de jovens que tinham em seu ideal a arte pela arte e o anseio de buscar nas raízes locais sua própria identidade buscando na arte a melhor forma de expressão.

Jehoval Junior
MTB: 52.172/SP
30 de abril de 2009.


Dissipação Visual
Por Genésio Martins de Castro Júnior

Dissipação Visual não é nada de tão definido, ditador de estéticas e modas, modismos, modernidade, a última novidade cultural (O Manifesto).

Nós temos consciência do relativismo de valores, seja qual forem eles (de que ordem for). Dissipação Visual é um trato com o mundo na sua totalidade internacional (global) ou nacional (atribo). Existe uma influência mútua, ou melhor, troca de valores. O que se realiza na tribo tendo consciência do que se realiza no mundo. Um exemplo: as nossas realizações culturais no Vale do Ribeira devem levar em conta nossas raízes, aliás, sua origem histórica, sua cultura, individualismo, enfim suas peculiaridades próprias. Sem, no entanto sua antena, sua parabólica-saber estando em sintonia com o global, o mundo todo – sem preconceitos e sem limites puritanos, provincianos, estreitos e mortais.

Dissipar é desaparecer, dispersar. A nossa função é dissipar as contradições do passado, os excessos e absurdos. Dissipar até mesmo o que nos oferecem através da cultura para encantar nossos olhos, corações e mentes.

Por mais paradoxo que seja nós iremos dissipar para absorver e daí reler o passado, criticá-lo para apontar o futuro. O passado presente no presente (mediador entre os dois) para gerar o futuro com união e sem exclusão.

Dissipação Visual é quase isso, por ser muito mais que conseguimos explicar. Alguma semelhança com antropofagia do Modernismo é facilmente explicado.
Explica-se da seguinte maneira: absorvemos esse manifesto (a sua idéia) para depois dissipar no cosmo como uma nova leitura de nós mesmos e do mundo.

Genésio Marins de Castro Júnior
Poeta e crítico de arte
Este texto foi escrito por Genésio Júnior em 1993 definindo em poucas letras o movimento que estava em plena ebulição. O texto foi produzido para o Jornal Mural "Espaço de Todos" edição de nº 3 que não chegou a ser editado.

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