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"Se quiser por à prova o caráter de um homem,
dê-lhe poder".
Abraham Lincoln
PERDÕE-ME POR ME ELEGERES
Perdõe-me por você ter que andar a pé ou de ônibus lotados ou mesmo pagar altíssimos preços no combustível e pedágio ,enquanto eu só ando de avião.
Perdõe-me por elevar meus gordos salários em votações relâmpagos e para aumentar seu misero salário mínimo em R$ 20,00 ou R$ 30,00, eu penso, penso e penso.
Perdõe-me por você trabalhar de 3 a 4 meses somente para pagar impostos para o governo e eu usar estes e mais outros 3 ou 4 meses de outros salários para comprar minha enorme casa de praia.
Perdõe-me por eu achar que o dinheiro público é meu.
Perdõe-me por eu não ter querido abrir mão de jeito nenhum dos 40 bilhões da CPMF, pois já gastei esse dinheiro, sinto muito, mas precisava muito dele.
Perdõe-me por todas as vezes que você precisou de médico e ficou horas e horas na fila de espera e no caso de especialistas meses e meses, enquanto eu, quando sinto uma pequena dor no dedo do meu pé, eu freto um jato e vou direto para o hospital Albert Einstein onde sou atendido na hora.
Perdõe-me por não ter me empenhado tanto na questão de segurança pública, deixando você e a sua família em cárcere privado com os bandidos soltos lá fora, enquanto eu não posso abrir mão, de jeito nenhum, dos meus seguranças particulares.
Perdõe-me por você ter que colocar seus filhos estudando em escolas públicas onde a educação não é lá estas coisas ou ter que gastar boa parte do rendimento em escolas particulares, enquanto meus filhos estudam no exterior.
Perdõe-me por eu precisar vender as rodovias federais e estaduais, apesar de você e seus antecedentes já tê-las pagas com seus IPVAs, CIDs; sinto muito, mas tivemos que entregá-las de mãos beijadas para empresas privadas, e hoje você tem que pagar um alto preço para ir e vir, enquanto eu só as vejo de cima, em aviões luxuosos.
Caro eleitor, aproveitando o ensejo, só posso dizer que sinto muito por tudo isso e gostaria de mais uma vez, poder contar novamente com seu voto para que dessa vez eu possa mudar este país para melhor".
O ANALFABETO POLÍTICO
Bertolt Brecht
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.
Carlos Heitor Cony
Naquela aldeia, todos roubavam de todos, matava-se, fornicava-se, jurava-se em falso, todos caluniavam todos. Horrorizado com os baixos costumes, o frade da aldeia resolveu dar o fora, pegou as sandálias, o bordão e se mandou. Pouco adiante, já fora dos muros da aldeia, encontrou o Diabo encostado numa árvore, chapéu de palha cobrindo seus chifres. Tomava água de coco por um canudinho, na maior sombra e água fresca desde que se revoltara contra o Senhor, no início dos tempos.
O frade ficou admirado:
“O que está fazendo aí, nessa boa vida? Eu sempre pensei que você estaria lá na aldeia, infernizando a vida dos outros. Tudo de ruim que anda por lá era obra sua, assim eu pensava até agora. Vejo que estava enganado. Você não quer nada com o trabalho. Além de Diabo, você é um vagabundo!”.
Sem pressa, acabando de tomar o seu coco pelo canudinho, o Diabo olhou para o frade com pena:
“Para quê? Eu trabalho desde o início dos tempos para desgraçar os homens e confesso que ando cansado. Mas não tinha outro jeito. Obrigação é obrigação, sempre procurei dar conta do recado. Mas agora, lá na aldeia, o pessoal resolveu se politizar. É partido pra lá, partido pra cá, todos têm razão, denúncias, inquéritos, invocam a ética, a transparência, é um pega-pra-capar generalizado. Eu estava sobrando, não precisavam mais de mim para serem o que são, viverem no inferno em que vivem”.
Jogou o coco fora e botou um charuto na boca. Não precisou de fósforo, bastou dar uma baforada e de suas entranhas saiu o fogo que acendeu o charuto:
“Quando entra a política, eu dou o fora, não precisam mais de mim”.
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